Artista nomade e investigador, Ícaro Lira recolecta objetos por los diferentes paisajes donde camina. En Villa Soriano, junto al curador de arte contemporáneo Manoel Friques, redactaron un pequeño ensayo literario sobre el pueblo, donde contrapusieron conceptos como el pasado y el futuro, la decadencia y el progreso, la construcción y la ruína. El texto fue publicado en el diário Crónicas, junto a algunas fotografías tomadas por ellos.

Icaro Lira también impartió una charla sobre su trabajo, acompañada de una pequeña muestra de los objetos recolectados en la zona, en la Galería Artesquina20, en Mercedes.

Paseos por los monumentos de Villa Soriano

«Todo todavía es construcción y ya es ruína»«El mundo comenzó sin el hombre y terminará sin él»Levis-Strauss«Uruguay es el paradójico país donde nací y volvería a nacer»

Eduardo Galeano

El 4 de diciembre del 2013, nos despertamos sorprendentemente temprano para dar un paseo turístico por los monumentos de Villa Soriano. Un pueblo que es la cuna del Uruguay, en medio a la horizontalidad inmutable del paisaje y sumergida en los cantos de los pájaros. En Villa Soriano, Uruguay está por nacer…

Esto es lo que nos dice el rectángulo de concreto blanco y mudo, entre la Aduana y el muelle. Allí se puede leer, en letras invisibles: el país es un devenir. La pequeña quebradura en la parte inferior derecha de este primer monumento no lo niega: el devenir se rompe

Monumento 1
Monumento 1

Felizmente, el nuevo muelle no está pronto. ¿Algún día estará, en este mundo dictado por la obsolescencia planificada? ¿Por que no ser viejo? ¿Cual es el problema en acompañar un tiempo no progresivo, donde la velocidad sólo existe negativamente? Tiempo que hace que el paisaje de ayer sea el mismo de hoy, y que, por eso, mezcla la memoria y la percepción, el ayer, el hoy y el siempre. El siempre que se espera de la flor textil del cementerio – para mantener los vivos

Monumento-2

Las flores artificiales también envejecen. Y, sin embargo, estas centinelas decaídas no pierden su encanto blanco a la espera, no de substitución, pero de su propia – e infinita – permanencia. El tiempo permanece, no vuela

Monumento 3
Monumento 3

Es para aquellos que desean construir: aviso a los señores que edifican, anunciado en este año de 1936 que es 2013. Al final, todo todavía está por construirse. Pero ya es ruina. No pierdan esta oportunidad.

Monumento 4
Monumento 4

Sobre residências enquanto instituições

Manoel Silvestre Friques

It’s not a question of being against the institution: We are the institution. It’s a question of what kind of institution we are, what kind of values we institutionalize, what forms of practice we reward, and what kinds of rewards we aspire to.

Andrea Fraser

Quando a Residência Vatelon surgiu, em 2013, este tipo de agenciamento artístico encontrara-se já disseminado e consolidado, sendo o caso uruguaio símbolo e confirmação de tal tendência. Isto é, o programa em Villa Soriano capitaneado por Andrés Boero Madrid e Clarissa Guarilha reforça e dá continuidade ao processo de institucionalização das residências artísticas, sendo este movimento o motivo da breve reflexão que se apresenta agora.

De imediato, é preciso esclarecer o que se deseja dizer quando se fala em «institucionalização da residência». Grosso modo, trata-se da difusão incontestável desta prática artística, de modo que hoje seja bem improvável deparar-se com um portfólio de um artista e/ou pesquisador em artes visuais sem encontrar ali uma referência a uma participação em uma atividade deste porte. Enquanto prática corrente, a residência resulta da ethnographic turn descrita por Hal Foster, por meio da qual há uma reatualização dos artistas viajantes de outrora, impondo, como característica dominante da práxis criativa contemporânea, a imagem do criador como cartógrafo, etnógrafo, ou ainda antropologia-filo, no estranho neologismo de Thierry Dufrene.

Fato que nos faz indagar se as residências seriam o mais novo capítulo da História das Instituições da Arte, composta por Igrejas Medievais, Guildas (como as “Guilds of St. Luke”), Academias (como a “Accademia del disegno”, criada por Giorgio Vasari), Escolas (como a Bauhaus, de Walter Gropius), Museus Públicos (como o British Museum, considerado o primeiro deles), Coleções privadas tornadas públicas (a coleção Medici que se tornou a Galeria Ufizzi, em Florença), Salões, Sociedades de Arte (como a Art Society de Colônia fundada em 1839), Museus de Arte Moderna (como o MoMA, de Nova York), Galerias e Fundações (como a da Bienal de São Paulo).

Ou ainda, ao lado deste aspecto um tanto diacrônico, o mesmo fato nos permite também olhar para a Residência na paisagem artística atual e, portanto, de um modo mais sincrônico, inaugurando uma nova sensibilidade, conforme pontua a crítica argentina Andrea Giunta:

Se abren así los panoramas sobre un nuevo circuito de organización de las artes, tanto en lo que hace a su distribuición (bienales, encuentros in-site, ferias de arte) como a las nuevas dinámicas de formación artística, por fuera del sistema de academias (workshops, residencias, clínicas), a las maneras diferentes de organizar la producción (colectivos, redes), a la distribución de la información y de la edición (on line, a través de networks), a los repertorios que diluyen la idea de artista en la de efimeras comunidades reunidas para compartir alimentos en una inauguración, para conversar en la «estación» o en el «kiosko» de una bienal, para ver videos, leer revistas, escuchar música.

De um modo ou de outro, o reconhecimento da residência artística como uma exercício difundido reitera a inescapabilidade de sua determinação institucional. Mas, assim é devido ao próprio fato de a instituição não estar fora de nós, mas ser atualizada e transmitida por meio de nossa própria prática, como bem esclarece Andrea Fraser. Isto porquê uma instituição refere-se tanto a uma organização com sede própria (como um museu), quanto a uma prática estabelecida. Está no dicionário. Sendo assim, a instituição – que geralmente refere-se a um lugar físico – deve ser compreendida também como um campo social composto por relações intersubjetivas que inclui (mas não se reduz a) espaços físicos pré-determinados. Sob esta ótica, uma residência rural, como é o caso da Vatelon, não está fora do circuito de arte, mas o expande, levando-o capilarmente às mais remotas áreas, como é o caso da cidade de Villa Soriano.

Portanto, todo discurso que enxerga a residência como o local à margem do circuito tende, nesta perspectiva, a esboroar. Há que se perguntar, todavia, o que querem as residências, em especial, aquelas rurais?

Ora, não se trata de buscar uma esfera fora do circuito de arte. Mas de repensá-la, reformulá-la, re-estabelecê-la levando em consideração realidades que fogem às cifras multibilionárias dos grandes centros artísticos. Sendo assim, se há algo de inescapável na arte, se a Residência ela mesma não representa o fora do circuito artístico, mas talvez uma nova estação institucional desta História, ela, por outro lado, pode (e talvez deva) confrontar o campo social da arte com outras realidades, pô-lo à prova. Instala-se, deste modo, uma tensão entre a inexistência de um enquadramento físico e a prevalência de um enquadramento conceitual. Neste terreno tenso, o circuito de arte revela-se como uma inconcebível abstração tanto quanto o Estado, conforme pontua Borges citado por Caetano Veloso. Restar-nos-ia, para seguir com eles, as relações pessoais?

Referências Bibliográficas

FRASER, Andrea. From the Critique of Institutions to an Institution of Critique. In: Revista Artforum Vol. 44. New York: Sep 2005.

GIUNTA, Andrea. Arte y biopolítica. In: Poéticas Contemporáneas – itinerarios en las artes visuales en la Argentina de los 90 al 2010. Buenos Aires: Fondo Nacional das Artes, 2010.

GROßMANN, G. Ulrich Institutions for Art – Art for Institutions. In: Anais do XXXIII Colóquio do Comitê Brasileiro de História da Arte /Organização: Ana Maria Tavares Cavalcanti, Emerson Dionísio Gomes de Oliveira, Maria de Fátima Morethy Couto, Marize Malta – Campinas: Comitê Brasileiro de História da Arte – CBHA, 2014 [2013].

VELOSO, Caetano. Diferentemente dos americanos do norte. In: O mundo não é chato. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.